Querido Miguel,
Pergunto-me onde te encontras
neste exacto momento, o que te possui a alma e o que desejavas que não rondasse
por aí. Questiono-me também, como sempre, se existirá alguma forma de sentires
orgulho em mim, e naquilo que sou. Não que o mundo seja tão injusto ao ponto de
não ser prático e fácil, – porque tanto tu, como eu, sabemos que sorrisos difíceis
de se formarem são os mais bonitos e agradáveis – mas tu sabes perfeitamente
que é difícil de alguém sentir orgulho de uma pessoa como eu. E essas
reticências matam-me o silêncio das noites, os intervalos das falas.
Queria poder escrever-te mais
vezes. Queria poder amar-me a mim o tanto que te amo a ti. Queria muito ter-te
escrito faz tanto tempo. Eu queria… E sabes, tão bem, que quando não tenho nem
um ponto de inspiração, tudo se torna incómodo à minha volta. Tento pensar em
algo que me fascine – tu – e mesmo assim acho que, às vezes, esgoto muitas das
palavras que conheço. Tenho um certo medo de te falar repetidamente dos meus
sonhos, dos meus fracassos, e enfim, de tudo o que aparece de repente no meu
dia.
E, por vezes, a imaginação passa
por mim, entranha-se na minha memória, e foge como se tivesse que estar noutro
lugar aquela precisa hora. Tudo aquilo que te digo, nem sendo metade do que
sinto, chamo-lhe de vírgulas. Uma vírgula aqui, uma vírgula ali, uns pontos no
fim do mundo e consigo, certamente, escrever-te algo com nexo. E as minhas
cartas, quando se dirigem a alguém como tu, mas não melhor, geralmente
interpreto-as “sem cor”. Isto porque estou tão habituada a escrever por desejo
ou tentação, por querer e não ter. E agora não. Mas digo-te mais. O que tu me
dás, preenche-me tanto os dias, que nem tempo tenho para pensar sequer numa
possível lamentação.
Desculpa o desabafo, meu amor. Um
beijo.
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