Vivo das palavras inconscientes, secretas e invisíveis. Louca por cada detalhe teu. Sou eu... Sou eu, em ti. E não me descreveria melhor.

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terça-feira, outubro 16

Encaixas-me que nem um puzzle


Querido Miguel,
Pergunto-me onde te encontras neste exacto momento, o que te possui a alma e o que desejavas que não rondasse por aí. Questiono-me também, como sempre, se existirá alguma forma de sentires orgulho em mim, e naquilo que sou. Não que o mundo seja tão injusto ao ponto de não ser prático e fácil, – porque tanto tu, como eu, sabemos que sorrisos difíceis de se formarem são os mais bonitos e agradáveis – mas tu sabes perfeitamente que é difícil de alguém sentir orgulho de uma pessoa como eu. E essas reticências matam-me o silêncio das noites, os intervalos das falas.
Queria poder escrever-te mais vezes. Queria poder amar-me a mim o tanto que te amo a ti. Queria muito ter-te escrito faz tanto tempo. Eu queria… E sabes, tão bem, que quando não tenho nem um ponto de inspiração, tudo se torna incómodo à minha volta. Tento pensar em algo que me fascine – tu – e mesmo assim acho que, às vezes, esgoto muitas das palavras que conheço. Tenho um certo medo de te falar repetidamente dos meus sonhos, dos meus fracassos, e enfim, de tudo o que aparece de repente no meu dia.
E, por vezes, a imaginação passa por mim, entranha-se na minha memória, e foge como se tivesse que estar noutro lugar aquela precisa hora. Tudo aquilo que te digo, nem sendo metade do que sinto, chamo-lhe de vírgulas. Uma vírgula aqui, uma vírgula ali, uns pontos no fim do mundo e consigo, certamente, escrever-te algo com nexo. E as minhas cartas, quando se dirigem a alguém como tu, mas não melhor, geralmente interpreto-as “sem cor”. Isto porque estou tão habituada a escrever por desejo ou tentação, por querer e não ter. E agora não. Mas digo-te mais. O que tu me dás, preenche-me tanto os dias, que nem tempo tenho para pensar sequer numa possível lamentação.
Desculpa o desabafo, meu amor. Um beijo.

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